quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A escrever no aeroporto de Luanda

     Estou agora a escrever este post no aeroporto de Luanda. Mais uma jornada em terras africanas cheia de aventuras. Sem ter tempo para parar e escrever...deixo apenas uma das ultimas viagens.

     No outro dia (4 e 5 de Dezembro) fiz uma volta para ver a Pedreira do Zenza, a obra de Lucala (já a funcionar) e o inicio da terraplanagem de Camabatela. O projecto no qual estou envolvido – Agua para Todos - proporciona estes passeios que possibilitam ver paisagens belas e únicas. As estradas (as que existem) tornam a viagem um desafio e o carro tem de estar a altura dos acontecimentos. Dirigi sozinho até ao Zenza o Land Rover Defender!

     Dormi num contentor de estaleiro, depois de adormecer ao som de uma chuva que me fazia sentir uma pipoca gigante dentro de uma panela - “plac, plac!” gotas grossas e fortes com um ritmo cadenciado...

     Pelas 6 horas toca a acordar e tomar o pequeno almoço com uma vista do interior da selva e um sol de invejar. Pouco depois junto-me ao Eduardo e começamos a trabalhar. Linhas de produção a montar, maciços a betonar, paredes a levantar, zonas a compactar....bla, bla, bla até pelas 10:30 onde pego no sub empreiteiro do ferro e sigo para Lucala. Alguns Kms andados e chegamos a Lucala pelas 13 horas. Estivemos com as autoridades locais que nos elogiaram pela “maravilha ali plantada”.Agua é dos bens mais necessários por estas terras. A Estação de tratamento tinha sido instalada no dia anterior e já estava a debitar água tratada...bebi um trago e gostei, felizmente não soube a nada!!! Junto-me ao Sr. Neto que conduzia tambem um Land Rover e caminhamos para uma reunião com outra empresa. São 14:50 e paramos numa terra chamada Samba Caju para comprar uns pacotes de bolachas e beber umas águas pois os almoços tem de ser marcados no dia anterior no restaurante que encontramos aberto. Menos mau que a barriga já não rosnava.

     Chegamos a Camabatela pelas 16h e vejo o movimento de terras e tenho de proceder a re-orientação da base. Feito um telefone sou projectista e encarregado de implantação desta Estação. Seguimos para resolver alguns problemas de alojamento do pessoal na localidade, pois o gerente da coisa quer cobrar mais pelos fracos serviços prestados. Podem imaginar um quarto sem janelas e a pagar cerca de 40 € por noite sem pequeno almoço! Preços de Angola! Depois da coisa assim meio resolvida, decidimos seguir viagem e programar o jantar no Uige. Terra por mim conhecida dada a jornada das eleições. Chegamos ao restaurante e os meus camaradas de viagem ficam admirados quando entro e: “Por cá inginheiro!” disse logo o recepcionista. “De passagem e com fome” - respondi eu. Outros seguiram-se e ainda deu para cumprimentar os médicos cubanos que se encontram em missão de dois anos na localidade que tinham chegado no inicio de Setembro. Foi quando o colega Vunge pediu para ser o primeiro doente de uma médica, ao qual ela respondeu: “Perdona, pero soy ginecologa!” risada geral de fazer chorar lágrimas...

     Jantados e seguimos para Luanda pelas 22:30. Longa viagem essa! Paragens aqui e ali, sempre que dava o sono. Deu ainda tempo para conhecer mais um fruto. A JACA. Grande, pastilenta, gostosa e cheia de gomos e caroços lá passou no esofago algumas vezes. Devido à cola que ela deixa lavamos as mãos com recurso ao gasoleo que o Neto trazia e ainda metemos 20 litros para possibilitar a chegada a Cacuaco.

     Eram 3:30 e estava a deixar o bolide no Cacuaco para ir para casa. Cheguei a casa pelas 4:10 e deitei-me para pouco depois acordar...Eram 6:30 e o despertador toca – tinha de voar.

     Pouco mais de 2 horas de sono e toca a levantar. Fomos até ao Huambo de helicóptero. Voamos num Sikorsky S-92. Que paisagens...que cenas durante a viagem...infelizmente o cartão da minha máquina estava cheio e não estou autorizado a partilhar as fotos daquelas pessoas que se encontravam a dormir no heli e foram fazendo certas figuras... Estou a espera de poder partilhar o filme realizado pela camera-woman e realizadora Inês.

     Depois de um almoço tardio onde houve quem pudesse provar uma francesinha fui brincar com o Nelito. Um miudo que à poucos dias tinha feito 5 aninhos. Peguei-lhe pela mão e la fomos ao parque. Chegamos e entramos quando deparo com uma jovem: - “são 20 kwanzas!” olho para o Nelito com os olhos cabisbaichos e digo-lhe que tinha deixado a carteira no restaurante e tinhamos de sair. Ele fica triste e dá-me a mão. Ao cruzar o portão de saída olho para o chão e vejo 50 Kwanzas. Não sei quem os la deixou, mas proporcionou um grande divertimento durante 10 minutos! Baloiço, escorrega, cavalinhos e muitos sorrisos!

     Terminada a folia era tempo de descanso. Fomos alojados na moradia do Cristovão e da Zulmira.

     Um agradecimento especial ao casal que me recebeu a mim e ao Ricardo que nos facultou a sua despensa e alojamento. Um muito obrigado aos dois. Gostei imenso de cozinhar comida peruana.

      O almoço de domingo foi preparado por mim, pelo Ricardo, pela Aimy e pela Zulmira. Que maravilha. Não foi pela causa que tivemos que comer, mas sim pela vontade de partilhar um excelente bocado de tempo com amigos e colegas. A vida é feita desses pequenos momentos onde partilhamos as histórias e fazemos planos para o futuro. Viagens eram programadas, aventuras contadas...gostos, feitios, crenças e sensibilidades partilhadas com um entusiasmo de nos transportar para locais longínquos.     De regresso a casa pelas 18 horas foi tempo de descansar...e preparar a ultima semana de trabalho em Angola.

     São agora 20:33 e estou rodeado de gordos americanos a caminho do Texas. A comer batatas fritas e a beber coca cola. Parece que já estou a ser preparado para o impacto duma diferença abismal.